Tempo e Memória

Grandeza física e faculdade psíquica, uma em interdependência da outra. Propõe-se a exteriorização da expressão íntima, daquilo que o tempo moldou e aquilo que a memória permitiu manter. Interessa revelar a dimensão inconsciente de um modo não estereotipado, perfeita e completamente liberto de modelos de materialização pré-formatados por questões de gosto ou moda. Provoca-se um tipo de expressão plástica intuitiva, única e pessoal de pessoas sem formação académica específica na criação de objectos de carácter artístico fora de quaisquer sistemas.

 

Tempo e Memória

Desde os mais remotos tempos pré-históricos podem-se encontrar nas paredes de grutas e rochas desenhos e gravuras de representações animais e humanas. Desde os mais remotos tempos da nossa infância, copiamos ou representamos o mundo que nos rodeia, os entes que nos são queridos e as nossas realidades individuais – fantasias, conflitos, desejos, preocupações e alegrias – de uma forma perfeitamente livre e intuitiva, num tipo de linguagem plástica representativa e universal, simbólica e individual, porque todo o processo de conhecimento, aprendizagem e expressão humana se dá sempre segundo dois factores, as vivências concretas e as suas possibilidades de simbolizações. Ao desenhar estamos a integrar este conhecimento em nós, e ao desenharmos estamos ao mesmo tempo a revelar este entendimento em imagens.

Não podemos conceber a vida sem o espaço nem a matéria, e sem a participação do tempo como configurador do universo a que pertencemos. O movimento dos objectos, ou pessoas, oferece uma modificação temporal já que o próprio movimento e a sua representação são temporalidade. A aparência dos objectos e das pessoas é alterada em função do tempo: o envelhecimento, a oxidação e a desidratação são as facetas mais visíveis da passagem do tempo. A realidade é finita, o passar do tempo relembra-nos isso dia a dia, e o que fica dessa finitude é a memória. Em relação dialéctica, o desenho na gruta e os primeiros rabiscos da criança congelam o tempo na imagem, retrato do tempo que já não é, mas que foi capturado, desafiando o tempo e a mortalidade.

A memória pode ser vista como uma construção individual a partir das cópias e dados que retivemos ao longo da vida. Os modelos que tentamos mimetizar evocam as memórias de tudo o que trazemos connosco, de tudo o que queremos vir a fazer de nós próprios.

O corpo humano contém visíveis as marcas da sua existência, guarda interiorizadas as memórias do seu percurso que se completa na morte. Somos um constante abrigo de sensações e experiências que nos vão alterando e definindo. Aquilo que fazemos define experiências sensoriais daquilo que acontece dentro e fora de nós, revela emoções, desejos e propósitos, revela o gesto de quem fez. Na consciência, a exteriorização da nossa expressão individual forma-se pela adição, combinação e mesmo subtracção de memórias visuais, produto da soma de elementos que caracterizam um todo. Sabemos que o processo não se esgota aí. A dimensão inconsciente – tão explicitamente exposta nos sonhos, tal como nos desenhos infantis – desorganiza e enriquece, complexifica.

A forma interior concebe-se a partir dos conceitos pessoais, muitas vezes intransmissíveis e irreveláveis, formados pelas experiências que vivemos.

Perceber é assimilar os estímulos e dar-lhes um significado, adivinhamos o que vemos, completamos com as nossas memórias aquilo que se oferece aos nossos sentidos. Uns vêm como fundo aquilo que outros entendem como figura, o significado é obra nossa, individual. Vemos aquilo que sabemos, percebemos a realidade de uma forma única, particular. O observador não é um mero receptor, são as suas vivências, conhecimentos e demais condicionantes socioculturais que vão influir de maneira fundamental na elaboração da imagem que vêem. O observador ajusta e compõe os dados que a forma lhe oferece e fá-los coincidir com os esquemas que guarda na sua memória. É parte de um conhecimento subjectivo, sem origem, memória ou história e que se adquire a partir da observação da realidade e da vivência que aparentemente é comum.

Direcção Artística

 

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Desenhos da Vida

“Mapas – Desenhos da Vida” é um projecto que compreende a investigação, a selecção e recolha das memórias das pessoas seniores. Procura promover sessões de Desenho no sentido de estimular nos participantes a activação da memória de uma geração que nunca se exprimiu através do desenho, tornando presente um património imaterial esquecido e que através do desenho se expõe na sua autenticidade.

 

Projecto
O projecto artístico da Luzlinar teve início em 2008 em Vila Franca das Naves, com a autoria e acompanhamento de Maria Lino e de Carlos Fernandes. O projecto retomou em 2017 e pretende organizar e documentar sessões de desenho contínuas que possam vir a constituir um levantamento etnográfico de populações de diferentes regiões. No conjunto de participantes maioritariamente de idade avançada, as pessoas são chamadas a desenhar de memória, lembranças de histórias, objectos, ambientes vividos.

 

Planeamento
1 . Selecção dos locais destinados a acolher o projecto para as sessões de Desenho e para o espaço Expositivo.
2 . Apresentação Pública do projecto Desenhos da Vida: Exposição, projecção dos Filmes realizados e oficina com a população local.
3 . Residência – Preparação e sensibilização dos técnicos sociais, autarquia e da entidade de acolhimento do projecto: centros de dia, casas de repouso, lares de seniores, etc.
4 . Residência – Investigação e Criação com sessões regulares de desenho, num número mínimo de 12 sessões, até 90 minutos cada, ocupando manhãs ou tardes, durante um período estimado entre 6 a 9 meses.
5 . Apresentação Pública do material de desenho recolhido para estudo e preparação de exposição, bem como edição do material audiovisual, compreendendo a edição de Catálogo impresso e o filme do projecto.

 

Objectivos Específicos
. Estimular a activação da memória de uma geração que nunca se exprimiu através do desenho.
. Compreender o desenho como documento etnográfico.
. Fomentar a importância da criação de uma catalogação da memória de pessoas seniores desenvolvida através das práticas artística e científica.
. Envolver as entidades locais (Município, centros de dia, lares) e as instituições com características adequadas para o desenvolvimento do projecto artístico.

 

2017 “Desenhos da Vida, Caria”, por Ana Rodrigues

2009 “Desenhos da Vida, O Desenhos como Documento Etnográfico”, por Carlos Fernandes

 

Exposições Realizadas

2020 Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior / Núcleo da Real Fábrica Veiga, Covilhã
2019 Sala de Exposições – Appleton Associação Cultural, Lisboa
2019 Casa da Torre, Caria
2018 Casa da Torre, Caria
2017 Sala de Exposições – A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, Fundão
2016 Sala de Exposições – Centro Cultural Miguel Madeira, Vila Franca das Naves

 

Cinema Gerações

A Oficina de Cinema pretende estimular novas experiências envolvendo as diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma cultura visual no sentido da fruição estética e simultaneamente da pedagogia da imagem em todo o processo de aprendizagem.
Por via de uma metodologia com base na experimentação, desenvolvemos formas pedagógicas direcionadas para a apreensão da linguagem e matéria cinematográficas, privilegiando uma abordagem ao cinema através do ver e do fazer.

 

 

Inclassificáveis

Inclassificáveis é um projecto que desenvolve uma investigação artística em torno do trabalho criativo que está situado no limiar do “trabalho do artista” e ao mesmo tempo do “trabalho do artesão”. Esta actividade desenvolve a relação entre as práticas artísticas e as práticas criativas. No contacto com cada uma destas expressões, o artista-investigador tem acesso ao processo criativo e ao que na sua génese o fomenta – as vivências, as experiências e as suas decisões.

Valorizamos o trabalho criativo que a nosso ver não é dada a atenção necessária, pela falta de um enquadramento, compreensão, sensibilidade social/artística/cientifica naesfera pública e na promoção cultural e criativa.

Para a cimentação deste projecto, de forte componente sociocultural, pretendemos que se crie um espaço de exposição que dignifique as mais diversas expressões criativas. Pretende-se que a investigação artística tenha como elementos inerentes ao seu processo os seguintes tópicos: pesquisa, reflexão de carácter ensaístico dos objectos de estudo e a consciencialização do artista da existência de uma multiplicidade de trabalho criativo no território.

 

Objectivos Específicos:
. Desenvolver um processo de pesquisa visando conhecer as práticas criativas na comunidade local e identificação dos potenciais “inclassificáveis”, contribuindo para a coesão territorial através de uma acção inovadora com a comunidade local na promoção da cultura e da criatividade.
. Promover o estudo dos trabalhos reconhecidos, a sua catalogação e posterior constituição de núcleos expositivos, desenvolvendo uma rede intermunicipal como suporte de promoção e difusão dos diferentes trabalhos desenvolvidos.
. Promover o trabalho criativo para a valorização pessoal dos cidadãos como referentes activos do património material e imaterial de uma região.
. Formar a comunidade visando a sua integração cultural e social, capacitando as autarquias para o desenvolvimento autónomo de projectos de investigação artística, científica e cultural.